Quer relaxar dos ambientes barulhentos? Saiba por que não existe o silêncio absoluto em nenhum lugar (2024)

Afastar-se do barulho do mundo. O poeta inglês Thomas Hardy usou isso como ideia para formar o título de seu romance, mas todos nós já pensamos nisso alguma vez quando desejamos silenciar os sons da vida diária que nos afligem.

O tráfego incessante, a conversa sem sentido da senhora de voz estridente na mesa ao lado, a música que escapa dos fones de ouvido da garota sentada na sala de espera, o rapaz que passa dezenas de vídeos no trem sem fones de ouvido, o cachorro que não para de latir a noite toda, a torneira pingando, a geladeira que parece acordar e dormir initerruptamente, uma televisão ligada em um apartamento vizinho, os dedos da recepcionista batendo no balcão com unhas longas esculpidas enquanto espera que o computador lhe dê alguma resposta.

As buzinas nas esquinas, o último trem que passa antes da meia-noite e o repicar dos dedos nas teclas do computador. A vontade é de fugir de todos esses sons, desligando-os um por um.

Para alguns, buscar o silêncio é como se perder em um deserto estéril em um dia sem vento, deitar-se sobre as dunas e ouvir o nada. Para outros, é escapar para um lago calmo e flutuar em uma colchonete gigante com o sol no rosto e os olhos fechados.

Estar na água e, para escapar dos ruídos, decidir afundar. Uma longa respiração e mergulho. Assim que os ouvidos cruzam o limite da superfície, os ruídos se transformam em um estranho silêncio. Os gritos de excitação ao redor da água se apagam e de repente só é possível ouvir exalações e as bolhas saindo da sua boca e nariz. Permanecer submerso até não haver mais fôlego.

Quando criança, costumava fazer a mesma coisa na banheira. Afundava, prendendo a respiração e abafando os ruídos da casa, por segundos que pareciam eternos. Este sempre foi meu silêncio preferido.

Afinal, esses silêncios são autênticos? O deserto parece silencioso, embora em questão de minutos começaríamos a ouvir nossos próprios passos levantando a areia ou nossa respiração mais ofegante por conta do esforço.

A água do lago, por mais quieta que esteja, baterá nas bordas do colchonete mesmo que ela flutue quase imóvel, e haverá pássaros ou talvez um pouco de vento que fará as folhas das árvores se moverem. A própria água, baterá levemente nas rochas e pedras da costa e tudo estará tão aparentemente silencioso que poderemos ouvir isso também.

Um físico afirmaria que o "silêncio absoluto" não existe. O nível mais baixo de som no mundo natural é o das partículas que se movem através de um gás ou líquido e até tem um nome: movimento browniano.

No entanto, empresas de tecnologia e cientistas têm tentado superar isso criando salas à prova de som conhecidas como câmaras anecóicas, salas projetadas para extinguir qualquer vestígio acústico. Lá, o som de fundo pode ser medido em decibéis negativos, ou seja, abaixo do limiar da audição humana.

Ao contrário do que muitos poderiam pensar, o lugar mais silencioso do mundo não é uma caverna nas profundezas da terra ou um lago calmo ao entardecer cercado de álamos e pinheiros. O lugar mais silencioso do mundo não é particularmente bonito, a menos que alguém considere toneladas de concreto empilhadas e paredes com pisos e tetos cobertos de fibra de vidro em cores marrons algo atraente.

O lugar mais silencioso do mundo é uma câmara anecóica, criada por cientistas no laboratório de Orfield, em Minnesota, Estados Unidos. Projetada para interromper as ondas sonoras que seriam refletidas nas paredes e cancelar qualquer tipo de eco, o silêncio é tal que se pode ouvir o próprio piscar dos olhos, o bater do coração e até os pulmões se enchendo de ar e se esvaziando a cada exalação.

— Quando tudo está silencioso, nossos ouvidos se adaptam — explica Steven Orfield, fundador do laboratório.

— Em uma câmara anecóica, você se torna o som.

No entanto, estar naquela sala não é tão agradável quanto se poderia esperar. Aqueles que passaram pela experiência não a suportam por mais de 45 minutos. Sem o ruído de seus passos no chão, as pessoas tendem a perder o senso de direção. Depois de um tempo muitos têm que se sentar em uma cadeira para não perder o equilíbrio.

Além disso, a câmara é usada por empresas que querem testar quão silenciosos ou barulhentos são seus produtos. Os astronautas da NASA, por exemplo, passam tempo em câmaras desse tipo para saber como reagiriam ao silêncio que os rodeará no espaço sideral. Lá parece flutuar o verdadeiro silêncio.

Enquanto isso, nós, aqui embaixo, poderemos buscar o silêncio onde nos parecer adequado ou onde pudermos encontrá-lo. Pode ser um silêncio enganoso, talvez, mas é exatamente o que precisamos para, de vez em quando, nos afastarmos desse barulho mundano.

Quer relaxar dos ambientes barulhentos? Saiba por que não existe o silêncio absoluto em nenhum lugar (2024)
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Author: Carlyn Walter

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